Antonio Alves
Porque talvez você não saiba
o que esse cheiro
da terra depois da chuva traz
para quem tem a memória
dos rios e dos barrancos
e de todas as tardes
em que um lento batelão
percorre águas improváveis,
caçando canais,
roçando lama,
devassado de proa a popa
por um vento
de indisfarçável melancolia
e talvez você não imagine
o tamanho da solidão
que essas viagens trazem
e estendem na alma
por um tempo muito longo
(uma eternidade)
e porque
talvez você não sinta
o poder dessa vontade
– ai, essa vontade –
de subir todos os rios
todos os tempos
até chegar às vertentes
das águas e das horas
…
é por isso então
que eu te conto
essas histórias.
(publicado no jornal Página 20, numa quinta-feira, 15 de setembro de 2011)