Veriana Ribeiro
Em 1984, uma exposição de arte no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque intitulada “An international survey of recent painting and sculpture” (“Um panorama internacional da pintura e da escultura recente”) reuniu 165 artistas, representando os mais importantes nomes da arte de 17 países. Desses, apenas 13 eram mulheres. Revoltadas, um grupo de artistas mulheres criaram um grupo anônimo chamado Guerrilla Girls que desde então vem apontando o machismo no mundo das artes.
Elas usam máscaras de gorila e nomes de artistas do passado, como Frida Kahlo, Paula Modersohn-Becker e Rosalba Carriera, para manterem seu anonimato. Através de cartazes, elas apresentam dados sobre o mundo da arte, principalmente em Nova Iorque, e fazem críticas irônicas sobre o meio em que vivem. Trinta anos depois, o cenário não mudou tanto assim e o trabalho das gorilas guerrilheiras continua pertinente.
O grupo emprega a culture jamming, uma forma de ativismo associado à street art que põe em voga técnicas de anti-consumismo, afim de romper ou subverter a cultura mainstream. Em seus cartazes, elas questionam, por exemplo, se as mulheres devem ficar nuas para entrar aos museus. Em um dos seus trabalhos mais icônicos, elas revelam que na década de 80 apenas 5% dos artistas expostos no Met. Museum eram mulheres, enquanto 85% dos nus eram femininos.
Em exposição no Museu de Arte de São Paulo desde 29 de setembro, elas atualizaram o cartaz com dados regionais, mostrando que apenas 6% dos expositores no Museu de Arte de São Paulo (MASP) são mulheres, e 68% dos nus são femininos. A própria organização do MASP revelou, na abertura da exposição, que o número de nus femininos só é menor que em outros lugares porque o museu tem uma coleção muito grande de quadros que retratam Jesus criança e nu. A exposição permanece no museu até fevereiro de 2018 e traz muitas reflexões.
Estive no local ontem e era assustador se deparar com alguns dados apresentados pelas guerrilheiras, a sensação é que ser mulher é lutar uma batalha perdida, onde você nunca será tão reconhecida pelo seu trabalho e terá que se contentar com um mundo pra lá de injusto. A exposição é feita de forma cronológica e poucas coisas melhoraram nos últimos 30 anos.
Ao mesmo tempo, o humor e a forma irreverente que elas trabalham dá energia para ser uma revolucionária. Um dos cartazes mais interessantes é “As vantagens de ser uma mulher artista” que mostra algum dos “privilégios” da categoria, como “trabalhar sem pressão do sucesso – porque você não o terá; Ver suas ideias nos trabalhos dos outros; Não ter que passar pelo constrangimento de ser chamada de gênio; ter a oportunidade de escolher entre a carreira e a vida de dona-de-casa; entre outras formas bem humoradas de retratar as injustiças do mundo machista.
As Guerrilla Girls ensinam que a arte deve sim ser questionada e criticada, mas existem formas inteligentes, revolucionárias e bem humoradas de se fazer isso.
Quer conhecer mais sobre essas artistas revolucionárias? Então assista os vídeos da Vivi, uma youtuber que fala sobre o mundo da arte e inspirou esse texto.